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(Foto: Jornal O Observador)

Rivalidade

Tudo isso era um prato cheio para a população de Pedro Leopoldo que fazia questão de acompanhar as 3 forças da cidade de perto. Mesmo sendo amadores, ambos possuíam uma intensa e presente torcida em seus jogos.


“O fanatismo era tão grande por parte dos torcedores que eles iam de carona assistir os jogos fora de Pedro Leopoldo. Alugavam ônibus, muitas vezes em condições até precárias. Mesmo assim, sempre o público era grande. Também haviam transmissões que as rádios e as TVs faziam. Isso era muito bom para as cidades. Os bares sempre cheios e hotéis com muitos hospedem”, revive o historiador Geraldo Leão, de 80 anos, em entrevista ao Jornal O Observador, edição 1000, publicada em 01 de março de 2015.


Como não poderia ser diferente, a grande maioria dos entusiastas do Industrial eram trabalhadores da Fábrica de Tecidos ou familiares e amigos dos jogadores. O fato dos torcedores morarem próximo ao clube recreativo fazia com que o Campo dos Eucaliptos ficasse sempre cheio. Já as torcidas do Pedro Leopoldo e Sport eram formadas por pessoas comuns da cidade.


Para o torcedor do Industrial Antônio Pereira Alves, conhecido como "Antônio Pasteleiro", 75 anos, a rivalidade entre as equipes eram tão forte como a concorrência entre os grandes clubes de Belo Horizonte.

“Um Pedro Leopoldo e Industrial era considerado um clássico como um Cruzeiro e Atlético. A população ia mesmo ao campo, muito animada pela  Cachoeira Grande, que era a banda de música do Industrial. Se fosse uma decisão de campeonato aquilo era badalado por dias ou até semanas. A euforia era a mesma de hoje. Futebol só muda a época, mas o entusiasmo, a diversidade, a concorrência e as brigas são as mesmo em todas as épocas”.

(Foto: Thiago Toney)

Ainda segundo Antônio Pasteleiro, as torcidas se provocavam através de apelidos. “Os pedroleopoldenses nós chamavam de “índios”, por causa do campo ser cheio de árvores. E nós os chamávamos de “urubus”, pelo uniforme ser preto e branco. Era aquela rivalidade de qualquer torcida”.


Os torcedores também tinham uma grande importância na manutenção dos times. As agremiações possuíam associados, uma espécie de “sócio torcedor”, muito comum nas grandes equipes de hoje, lembra Chico Gordura. 

“O Industrial tinha um clube, com hora dançante (baile) e então tinha um número de associados muito grande. Muita gente, mesmo sendo torcedor do Pedro Leopoldo ou do Sport, também era sócio do Industrial por causa disso. Todo sócio recebia um recibo com o escudo do Industrial, era muito organizado”.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Mas os clubes também recebiam apoio de personalidades da cidade que eram apaixonadas pelo esporte, como diz o historiador Geraldo Leão. “Os dirigentes dos clubes ou pessoas bem-sucedidas da época bancavam os times. Pessoas como André Xavier, Aristides Machado, Pedro Antônio Pereira, Dr. José Tavares Rocha, Francisco Carvalho (Chiquinho do Quadro) e José Nicolau Neto, entre muitos outros contribuíram com os clubes e faziam toda aquela festa, que era fazer o futebol acontecer”.

 

A rivalidade dos clubes era tão grande que cada torcida possuía um bar em que se reuniam antes dos jogos e para comemorar após as vitórias. Os torcedores do "bode" se concentravam no Bar do Pedroca, atual Casa Neves de Ferragens (esquina da Comendador Antônio Alves com Rua Dr. Herbster). Os amantes do Sport se encontravam no Bar do Ponto, onde atualmente fica a Padaria Santos (Rua Comendador Antônio Alves) e os fanáticos pelo Industrial se reuniam na sede do antigo Clube. 

 

“Existiam até grupos diferentes. Quem era torcedor e pertencia ao Industrial, não frequentava nada do Pedro Leopoldo e do Sport, e vice-versa. A rivalidade era intensa até chegar nesse ponto. Cada um dos clubes tinha o seu local onde os torcedores frequentavam e a partir daquele ponto, eles iam assistir os jogos no local que fosse acontecer. Os torcedores acompanhavam mesmo e vira e mexe acontecia até uma briga”, revive Irineu.

 

A pressão da vitória também era sentida por aqueles que entravam em campo, relata Décio. “Era uma rivalidade terrível, muito grande. A cidade parava, uma semana antes já falavam que tinha jogo no domingo. A cidade parava pela ansiedade de esperar a partida acontecer. A gente nem dormia, só pensando no jogo. Tínhamos aquela preocupação de ganhar e na derrota era uma tristeza”.

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